Powered By Blogger

quinta-feira, 26 de julho de 2012

TRÍADE DA MULHER ATLETA

                                             Maurren Maggi

TRÍADE DA MULHER ATLETA

A tríade de mulher atleta é um conjunto de três fatores inter-relacionados que afetam a performance e especialmente a saúde da mulher: distúrbios alimentares, amenorréria e osteoporose. Como colocado pela Dra. Jaren Birch, da Universidade de Leeds (Inglaterra), a pressão psicológica desencadeada pela exigência de altos níveis de performance, e por tabela os baixos níveis de gordura corporal associados a atletas de ponta, faz com que as mulheres tentem perder massa corporal através do aumento do volume de treino e diminuição da ingesta calórica. A dieta pobre, agravada por maior treinamento e pelo aumento na concentração de hormônios associados ao estresse psicológico, pode eventualmente alterar o controle dos hormônios responsáveis pelo ciclo menstrual, o que em última instância leva à amenorreia (interrupção do ciclo menstrual).

Sem o ciclo menstrual, a produção de estrogênio (como vimos anteriormente, um dos hormônios responsáveis pelo controle do ciclo menstrual), também fica prejudicada. Acontece que o estrogênio é importantíssimo na regulação do ciclo de construção de massa óssea, e a carência deste hormônio na circulação pode levar à diminuição da densidade óssea e aumento do risco de osteoporose. A tríade da mulher atleta, em outras palavras, é um efeito cascata onde uma desordem potencializa o aparecimento da outra, e ainda agravando os efeitos da anterior, o que torna a doença muito grave.

O exercício intenso facilmente interfere com o ciclo menstrual. Uma pesquisa de 1985, do tipo de trabalho que só era possível naqueles tempos, mostra um exemplo típico. Um grupo de mulheres previamente destreinadas, com ciclos menstruais normais, foi submetido a um treinamento de alta intensidade: as participantes corriam todos os dias entre 6,4 e 16,1 km (aumentando progressivamente ao longo de cinco semanas), mais cerca de 3,5 horas diárias de prática esportiva de intensidade moderada. O resultado foi que 24 das 28 participantes sofreu alterações hormonais e disfunções em seu ciclo menstrual. Das quatro restantes, três estavam no grupo que recebeu uma dieta de forma a manter sua massa corporal ao longo do estudo.

Os resultados mostram como o ciclo menstrual é suscetível a alterações induzidas pelo exercício intenso, especialmente se acompanhado de perda de peso. Mais recentemente, utilizando um modelo animal (em macacos submetidos a treino de corrida), um grupo americano demonstrou que as alterações no ciclo menstrual são altamente ligadas ao deficit calórico, e distúrbios no ciclo podem ser facilmente revertidos com compensação energética.

E se ainda assim a tríade parecer um cenário distante, existem trabalhos mostrando que a prevalência dos fatores é maior do que se imagina. Uma pesquisa publicada nos EUA em 2006 demonstrou que em um grupo de 180 garotas com idade entre 14-16 anos, todas atletas escolares, a prevalência de pelo menos um dos fatores foi de 18% para desordens alimentares, 23% para irregularidade menstruais e 22% baixa densidade óssea. Dez das 180 meninas (5,9%) apresentaram dois dos componentes da tríade, e duas garotas, ou 1,2%, foram diagnosticadas com os três componentes da tríade. Apesar do percentual de meninas identificadas com a tríade completa não ser muito alto, o número já chama atenção, e mais ainda se considerarmos a quantidade com pelo menos dois componentes.

A melhor estratégia para lidar com a situação é obviamente a prevenção, uma vez que a identificação dos dois primeiros componentes da tríade (distúrbios alimentares e menstruais) são relativamente simples e baratos de serem realizados. Para atletas já identificadas com a tríade, o primeiro passo de tratamento é o acompanhamento psicológico, uma vez que via de regra distúrbios alimentares (como anorexia nervosa ou bulimia) estão na raiz da situação. A redução da carga de treinos também pode auxiliar, pois favorece o re-estabelecimento de um balanço energético favorável.


fonte: revista contra o relógio